Por Jessica Maciel
Los Carpinteros: Objeto Vital
Estreou no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio
de Janeiro (CCBB-RJ), no dia 03/05/2017, a exposição artística OBJETO VITAL, do
coletivo cubano LOS CARPINTEROS. Criado, em 1992, pelos artistas Alexandre
Arrechea, Dagoberto Rodriguez e Marco Castillo, mas integrado, atualmente,
somente pelos dois últimos, Los Carpinteros trazem ao Rio de Janeiro uma
grandiosa exposição, contendo mais de 70 obras de arte, dentre esculturas,
desenhos, vídeos, aquarelas e muito mais.
O Apaixonados por Viagens foi convidado a
participar de um encontro da imprensa com o coletivo, que é um dos mais
importantes da atualidade, e conta pra vocês como foi viajar nessa exposição
viva, alegre e cheia de cultura.
A mostra conta com obras que remontam à origem do
coletivo (algumas das quais os artistas só reencontraram mais de 20 anos após
suas criações), que revelam sua evolução ao longo do tempo (incluindo a utilização
de diferentes instrumentos e materiais) e também com outras inéditas, confeccionadas
especialmente para a exposição no Brasil.
Tendo como característica comum o forte apelo
social, como os próprios artistas descreveram, o acervo adota como tema a força
e a vitalidade que um objeto comum pode adquirir, transformando-se em verdadeira
manifestação, seja ela artística e cultural, seja ela de denúncias sociais e de
protestos. Tudo isso com uma pitada de ironia, de “irreverência”, de humor e,
claro, de muita inteligência a partir da observação crítica dos fatos à sua
volta.
Dividida em
3 blocos, a exibição se apresenta da seguinte forma:
1) OBJETO DE OFÍCIO
Representa a fase inicial do coletivo, com forte
ênfase na manufatura artesanal de objetos relacionados ao seu cotidiano e ao
contexto histórico. Estamos falando de Havana, nos anos 90, no período
pós-queda da União Soviética, onde imperava naquele país (Cuba) uma das mais
graves crises econômicas. Segundo os próprios artistas, era “como se todos os
cubanos fossem como os brasileiros mais pobres”. A fome e a sede também se
mostravam ferozes, além da agressividade demonstrada pelo governo. Nessa fase,
destaca-se o uso da madeira, que era encontrada nos casarões cubanos
desabitados. O nome do coletivo, Los Carpinteros, surgiu incusive em razão
dessa fase.
Havana Country Club: espaço restrito a certas
categorias de pessoas e inacessível à população.
Retrato da vida sacrificada dos
cubanos.
“Senhor, perdemos tudo no jogo. – Tudo? - Tudo
menos uma coisa. – Qual? – A vontade de voltar a jogar.”
2) OBJETO POSSUÍDO
Esse momento retrata a fase em que o coletivo conquistou
expressão internacional, retratando não somente questões cubanas, mas sim
problemáticas transterritoriais. O bloco tem por proposta mostrar a fuga do
ninho, com inserção dos artistas em outros espaços. Nessa fase, o uso da
manufatura local dá lugar às construções quase que autônomas dos objetos, é
como se os próprios objetos dessem forma àquilo que quisessem. Aqui, os objetos
são donos de si.
Camas que se entrelaçam e estante que se
contrai e se expande como músculos de acordo com a força impressa sobre ela.
Paredes de xícaras de chá/café. Os artistas ao
criarem a obra pensaram em como compatibilizar o caminho de Santiago de
Compostela percorrido pelos peregrinos e a essencialidade diária do café.
Carrinho de compras e de lixo juntos. Uma mistura
inusitada entre consumo e lixo.
3) ESPAÇO OBJETO
Esse bloco explora a arquitetura como forma de
subversão do uso e da finalidade que lhe são comumente destinados. Aqui, reinam
as propostas de intervenção no espaço urbano e a ligação entre os espaços
público e privado. Um traço característico dessa fase também é a construção de
projetos utópicos.
Uma tela sugestiva de um “prédio- armário”, onde os
apartamentos seriam as gavetas, chamou minha atenção. Embora pintado em Havana, o quadro foi
inspirado nos prédios altos de São Paulo/SP.
À frente, projeto de sala de leitura ampla e
totalmente acessível; atrás, a peça “Robotica, em madeira, metal e peças Lego.
O trabalho do coletivo é realmente intrigante e algumas obras marcam, como o quadro do Alicate com a planta de uma casa.
A mostra está imperdível, valendo super a pena
conhecer ou conferir um pouco mais desse coletivo que já apresentou suas obras
em renomados museus, como o MoMa e o Guggenheim, em Nova York, o Museum of
Contemporary Art, em Los Angeles e a TATE Gallery, em Londres.
A exposição será exibida entre os dias 03 de maio a
01 de agosto de 2017, no CCBB-RJ (Rua Primeiro de Março, 66, Centro).
Pra aguçar mais ainda a curiosidade, seguem mais
fotos de OJETO VITAL:
Da esquerda para direita: Dagoberto Rodriguez, Marco Castillo e uma das representantes da
mostra
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