28 junho 2016

Tour Gastronômico em Santa Teresa: Restaurante Espírito Santa

Quando pensamos em Santa Teresa, lembramos sempre da tradição de seus tempos áureos quando o bairro era habitado pela aristocracia da cidade, lembramos também do Bondinho de Santa Teresa, que é um verdadeiro cartão postal da cidade, mas inevitavelmente remetemos nossos pensamentos aos tempos atuais em que o bairro é bastante associado à boemia, diversidades, descontração, irreverência, à presença de muitos artistas plásticos e pintores e, como não poderia deixar de ser, à alta gastronomia!



Envoltos por esse espírito, nós retornamos ao bairro e demos continuidade ao nosso Tour Gastronômico em Santa Teresa na última semana, ocasião em que tivemos a oportunidade ímpar de revisitar uma casa que é muito querida por nós: o restaurante Espírito Santa!

Lá para os idos de 2004, 2005 e 2006, eu pude frequentar em diversos momentos o bairro. Já subi a ladeira da Glória para ir ao encontro do bloco Carmelitas, já estive em festas bem alternativas, mas com vistas espetaculares para a Baía de Guanabara, já fui a casamentos... e já estive no Espírito Santa quando no seu andar de baixo funcionava uma boate. Ah sim... eu tinha mais de 18 anos, mas não revelo minha idade! kkkk...

Logo, posso afirmar que o restaurante faz parte já da minha relação com o bairro e sempre o indico, como vocês podem ver nessas matérias publicadas no blog (veja aqui e aqui).

Por isso mesmo foi com muita alegria que aceitei o convite da doce e gentil Natacha Fink, uma das proprietárias do restaurante, além de ser a Chef que assina o cardápio.

Vamos falar um pouco do restaurante primeiro e depois do cardápio?

O Espírito Santa fica em um Casarão típico de Santa Teresa, de 1875, na Rua Almirante Alexandrino, com dois andares onde os clientes têm acesso.

No andar de baixo, conhecido como Desnível, aquele mesmo onde tinha a boate, cujo acesso é por escada, agora funciona um bar (uma parte da cozinha), e ele foi dividido em 3 ambientes: um salão com mesas com destaque para as belas janelas de madeira, onde ocorrem algumas degustações especiais orientadas pela própria Natacha.



Uma saleta com sofá muito fofa.


E um tablado com uma estante repleta de cervejas gourmets.


A decoração desse andar difere um pouco da do primeiro andar, pois aqui prevaleceram elementos rústicos, muita madeira, espelhos, estantes, quadros, parede em seu estado original aparente, tons mais elegantes e sofisticados com ares vintage e muito harmonioso, com menos referências à temática espiritual / religiosa, embora se façam presentes uma estátua de Buda e outra de Yemanjá.


Logo pensei nesse espaço para eventos, festas, aniversários por ser mais reservado. Até porque ele acaba sendo mais usado em dias chuvosos quando não se consegue ocupar a varanda do primeiro andar.

O primeiro andar, que está no nível da rua, onde todos entram, com seu pé direito bem alto, ele é mais rico em elementos de decoração, incluindo temas indígenas, e mais colorido, com destaque para as velas derretidas e, mais uma vez, uma estátua do Buda. Sem contar as remições ao bairro com vários bondinhos pendurados! Uma graça.



E também fica no primeiro andar a varanda, que, apesar de pequena em comparação com os demais ambientes, é o espaço mais disputado da casa, já que é mais romântico, com velas nas mesas, luz baixa e vista para as ladeiras e casarios de Santa Teresa!


Exatamente por isso que a Natacha reservou uma mesa para a gente na varanda onde tivemos um lindo jantar que ficou ainda mais perfeito com o friozinho que fez na semana passada.

O cardápio do Espírito Santa é marcado por fortes influências da gastronomia manauara, em homenagem às origens da Natacha, com ênfase aos frutos do mar e muita sofisticação!

Transbordando contemporaneidade em meio a uma explosão de sabores e aromas exóticos, podemos dizer que o cardápio da casa é muito ousado, com uma variedade que impressiona ao ponto de precisarmos de ajuda para escolher nossos pratos dentre tantas opções que pareciam deliciosas e diferentes. Confesso que não conhecia muitos ingredientes e também por isso que tive que pedir explicações.


Ninguém melhor, portanto, do que a própria Natacha para nos explicar um pouco dos pratos e sugerir alguns para a gente.

Fiquei admirada em saber que os peixes do restaurante que vêm da Amazônia ou são transportados frescos e em tanques para o Rio ou são congelados por pouco tempo.



Bem, depois desta apresentação, nada mais justo do que escolhermos frutos do mar e peixes para o nosso jantar, primeiro, pela natural curiosidade em experimentar os pratos elaborados com peixes amazonenses, como o pirarucu; segundo, porque nós amamos mesmo!

Para começar, escolhemos duas entradas: Patacon de camarão e uma porção de Patinhas de caranguejo de água doce.

Ambos os pratos estavam divinos! Nota 10 sem hesitar. Inclusive, o tamanho do prato do camarão é totalmente satisfatório até mesmo como um prato principal.


Muito bem temperado, é servido com batatas doces tostadas e molho moreno. Os camarões têm tamanho médio, já vêm descascados e o ponto estava perfeito.

Já as patinhas vêm em uma porção menor, sendo 12 unidades, que atende mais ao propósito de ser uma entrada para compartilhar. Só que não pode ter frescura para comer porque tem que ser com a mão mesmo para conseguir comer a carne dos pedaços de patola. O molho de ostra com redução de açaí é maravilhoso, levemente picante, mas na minha medida de tolerância.


Reparem no cardápio e nas várias opções diferentes que a casa oferece, como o Charuto de Pato ao Tucupi ou a Feijoada de Rolo, releituras de pratos amazonenses que ganharam contornos mais cariocas. Um clássico dentre as entradas, que nós já degustamos em outra oportunidade, é o Croquete! Da última vez que estivemos lá, nós experimentamos o de Tambaqui com pimenta de cheiro, que estava muito gostoso! Vale a pena experimentar ao menos um croquete dentre as opções do cardápio.


Para acompanhar as entradas, foi-nos servida uma taça de espumante brut muito refrescante. Aliás, o cardápio do Espírito Santa já traz algumas sugestões de harmonização e sua carta de vinhos e espumantes é bem interessante e honesta.


Lembrando que o ideal para harmonizar com frutos do mar e peixes são os vinhos brancos e rosés bem como os espumantes.


Há uma sugestão de harmonização pela somelière Graciela Bittencourt que montou uma carta de vinhos que prioriza os brasileiros, mas também apresenta rótulos chilenos, argentinos, franceses, portugueses, italianos e espanhóis. 


Seguindo esta linha, nós escolhemos um vinho branco para a continuidade do nosso jantar, pois os pratos principais tiveram o peixe como grande estrela.



Escolhemos o Pantaneiro, que é um filé de pintado grelhado, servido com salada morna de palmito pupunha, quiabo e pimenta cambuci.


O outro foi o Peixe no Pacotinho: filé de pintado recheado com farofa de palmito de pupunha, embrulhado em folha de couve, sobre creme de banana da terra levemente aromatizado com mangarataia, acompanhando arroz salsado e banana da terra frita.

Em termos de apresentação, a de ambos os pratos é impecável! As flores colocadas em cima conferiram um toque tão fofo e romântico... lindinho, não?

No que tange ao sabor, eu achei o Peixe no Pacotinho mais exótico e com um paladar único. Aliás, a apresentação dele também é muito curiosa e o sabor é incrível. Em um primeiro momento, como não sou muito fã de banana da terra em pratos salgados, fiquei receosa de não gostar da combinação. Mas o creme estava uma delícia e o sabor da banana foi bastante disfarçado pela mangarataia. 



Vocês sabem o que é a mangarataia? É o nosso velho conhecido gengibre que assim é chamado na Região Norte. 

Achei perfeito o Peixe no Pacotinho, apesar de não ter comido a banana em si, mas o creme estava uma delícia e o arroz salsado, soltinho hummmm... bom demais!

O Pantaneiro, por sua fez, embora seja um prato de preparação ao meu ver mais simples, também era muito rico em sabor e eu adorei o palmito pupunha.

Por fim, encerrando essa noite incrível, pedimos duas sobremesas: Quadradinho de Tapioca e Mineira!

O Quadradinho de Tapioca é bem servido, recheado com chocolate meio amargo e acompanhado de calda de laranja. Ele não me emocionou muito, embora bem preparado e com linda apresentação.


Mas a Mineira, uma tortinha quente de goiabada com queijo fresco da Serra da Canastra... hummmm... esse arrebatou meu coração! Eu já amo essa combinação a la "Romeu e Julieta" então dificilmente essa sobremesa não me encantaria, como de fato encantou. Adorei e super recomendo.


Reparem, contudo, que o cardápio traz outras opções bem diferentes, sempre prezando pelo uso de ingredientes tipicamente amazonenses ou do cerrado, não tão comuns no dia a dia, como o cupuaçu e o bacuri para as sobremesas, o uso de frutas como a banana da terra, o maracujá, o abacaxi e a laranja nos pratos principais, buscando essa composição de sabores com muita maestria e alcançando resultados exóticos, sofisticados e bem tipicamente brasileiros!

Para completar, o bondinho de Santa Teresa passa bem em frente ao restaurante (seu horário de funcionamento é de segunda a sábado, das 11h às 16h com paradas no Largo do Curvelo e Largo dos Guimarães).

Se você pegar o bondinho de Santa Teresa na Carioca (metrô Carioca) e descer no Largo dos Guimarães, portanto, fazendo o trecho completo de subida, você poderá ir andando ao Restaurante Espírito Santa e chegará em cerca de 5 minutos de caminhada.

Em frente ao restaurante também há um belo painel na parede em homenagem ao Bondinho onde muitos param para fotografar. 

Espero que tenham gostado das dicas e, quando forem lá, venham aqui contar para a gente como foi a experiência de vocês!! 



** FICHA TÉCNICA DO ESPÍRITO SANTA **

- Endereço: Rua Almirante Alexandrino, 264 - Santa Teresa, RJ

- Sobre a Chef: Natacha Fink é manauara, jornalista por formação que, durante a produção de um documentário decidiu assumir a gastronomia como profissão, sempre muito preocupada com a sustentabilidade ambiental, valorizando produtos locais, legumes e hortaliças orgânicos e produzidos em Petrópolis, além de serem todos os peixes utilizados provenientes da Amazônia com criação garantida através de projetos de manejo sustentável, não fazendo parte da lista de espécies ameaçadas de extinção. Além disso, há coleta seletiva de lixo e aproveitamento da água da chuva. Ainda possui forte preocupação com a cultura brasileira e, em especial, a amazonense. Veio para o Rio de Janeiro em 1997 e é proprietária do Restaurante Espírito Santa. 

- Telefone: 0055 21 2507-4840

- Site: http://www.espiritosanta.com.br/index.php

- Como Chegar: não há estacionamento nem manobrista. A melhor forma de ir é de táxi/Uber. Na rua do restaurante passam muitos táxis. Você também pode ir de bondinho (funciona de segunda a sábado das 11h às 16h) ou de metrô até a estação da Glória e lá você ou subirá para o bairro até o restaurante (cerca de 15 a 20 minutos de caminhada), que eu não recomendo se for à noite em hipótese alguma, ou pegará um táxi. 

- Horário de Funcionamento: de segunda a domingo (todos os dias da semana), das 12h às 24h

- TripAdvisor: Confira aqui os comentários sobre o Restaurante Espírito Santa, que tem nota 8 e está em 258º lugar dentre cerca de 12.300 restaurantes listados pelo site. 





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