Quem me acompanha também no instagram deve ter visto a minha publicação naquele triste dia 13 de novembro de 2015, uma lamentável sexta feira 13, que fez jus à sua fama de ser um dia temido, quando ocorreram os atentados em Paris e eu, a bordo de uma aeronave da companhia aérea TAM, tentava ir para Urberlândia, com uma conexão em SP que seria em Congonhas.
Sim, "tentava"... "seria" ... exatamente porque não foi, já que chegamos em São Paulo juntamente com uma tempestade pesada, com fortes rajadas de ventos, chuva de granizo e o avião, ao tentar aterrissar no aeroporto de Congonhas, que todos já conhecem bem o seu histórico de acidentes (Congonhas e Santos Dumont competem, hein? Mas acho que Congonhas ganha fácil em amedrontar...), o avião, portanto, não conseguiu aterrissar porque os ventos eram fortes demais e ele arremeteu.
Quem tem medo de viajar em aviões pequenos? |
Confesso que na hora eu estava tranquila, um pouco sonolenta e sem entender direito o que se passava. Eu realmente não tenho medo de avião. Mas logo percebi a respiração ofegante do Julio, ao meu lado, momento em que olhei para ele e me deparei com seu semblante assustado, algo que nunca tinha visto antes (e olha que a gente já fez dezenas de viagens juntos...). Ali eu fiquei com medo! E comecei a perguntar o que estava acontecendo. O avião ficou taxiando no céu... ia para frente toda vida, sem dar sinais de retornar, o comandante demorou muito a se pronunciar sobre o ocorrido, muitas pessoas começaram a se apavorar e a gritar, quando então o Julio (ele fez mestrado no ITA e já trabalhou na Embraer... ou seja, ele entende um pouco de aeronaves...) disse que a situação era crítica, que o avião arremeteu sem estabilidade (estava meio que "sambando" no ar), que isso era muito perigoso porque ele estava diminuindo a velocidade e enfrentou rajadas de ventos... pois bem, depois dessa explicação, só me restava rezar!
Ficamos taxiando por quase 1 hora, sem muitos pronunciamentos do comandante, que se limitou a dizer que estávamos enfrentando muitas turbulências por causa da tempestade e, em diversos momentos, o avião chacoalhou bastante mesmo. Ele decidiu levar-nos para Ribeirão Preto, onde pousamos e ficamos por mais umas 2 horas aguardando o posicionamento da TAM. Nesta ocasião, uma pessoa começou a passar mal e foi atendida por um médico presente dentre os passageiros. Por fim, retornamos a São Paulo e, como Congonhas já estava fechado em razão do horário, fomos para Guarulhos.
Esse meu relato com certeza deve deixar muitas pessoas apavoradas. Tenho certeza também de que muita gente já passou por situações ainda piores de turbulências (eu mesma já vivenciei em um voo que ia para Santiago, em 2011, momentos tensos de turbulência, daqueles de apertar a mão e rezar bastante... mas as máscaras não chegaram a cair... ).
Mas esse texto que apresento a vocês não é para desestimulá-los a viajar. Pelo contrário, a ideia é mostrar que há como vencer o medo de voar, o pânico com tratamentos específicos para isso.
Estatísticas apontam e comprovam que voar é sim mais seguro do que dirigir pelas estradas, principalmente pelas estradas do Brasil, onde a maioria é mal pavimentada, esburacada, com pontes caindo... isso sem contar questões de segurança pública, como roubos, furtos, dentre outros.
Veja aqui essa matéria do portal G1 que fala exatamente sobre uma dessas estatísticas.
Justamente pensando nisso, que convidei minha querida amiga, Gisa, que é psicóloga especializada em tratamentos cognitivos-comportamentais, para falar um pouco para a gente sobre a fobia que muitos sentem em andar de avião!
Antes de mais nada, deixo já meus agradecimentos para a Gisa, que gentilmente elaborou essa matéria para a gente e espero que possa ajudar muitas pessoas!!
Fobia de avião: existe solução?
por Gisela Nonnenberg
Quem nunca estremeceu durante uma turbulência ou levou um Dramin na bolsa para dormir durante uma viagem de avião? Muitos têm um certo receio de voar, sentem-se ansiosos antes da decolagem e têm seus truques na manga para reduzir o desconforto durante a viagem.
É muito importante diferenciar esse quadro de medo do que seria propriamente a fobia de andar de avião: no caso da fobia, o indivíduo se apavora apenas com a ideia de voar e evita a todo custo esse meio de transporte, prefere não viajar ou utilizar outras formas mais demoradas (carro, ônibus, etc), deixando muitas vezes de aproveitar um dos maiores prazeres da vida. Além disso, ele não se compromete sozinho, pois, frequentemente a família, o cônjuge, namorado ou amigos têm sua viagem limitada, reprogramada ou até cancelada em função desse quadro fóbico.
Já o medo não é um estado incapacitante. O sujeito fica ansioso, angustiado, mas embarca da mesma forma.
Quando se trata de fobia, não adianta brigar, espernear ou ameaçar divórcio, mas sim é preciso buscar tratamento específico. Procurar um psiquiatra é válido, mas as medicações são apenas paliativos e não reforçam o sentido de auto-eficácia, ou seja, a capacidade da pessoa em perceber a ação como fruto do seu esforço, sentindo-se capaz e empoderada.
O melhor é ir direto a um psicólogo especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental, que oferece para essa queixa um tratamento focado, eficiente e breve.
Em primeiro lugar, é preciso verificar qual é a natureza da fobia de avião, qual é o receio principal da pessoa?
Alguns temem que sua vida e dos demais esteja em risco, que o avião caia ou que algum desastre semelhante aconteça; no caso de outros o que ocorre é uma ampliação do medo de estar em algum lugar do qual não seja possível escapar com facilidade (seja um avião, um túnel ou um elevador), também é muito comum o indivíduo ter medo de passar mal (uma crise de pânico, vômito, desmaio, etc) e estar exposto a pessoas desconhecidas, sem a certeza de receber os cuidados devidos.
Em seguida, é estabelecida com o paciente a hierarquia das situações menos ameaçadoras (como assistir a um filme com cenas em um avião) às mais assustadoras (como viajar de avião propriamente ou ver um ente querido embarcando, por exemplo).
Depois de completar essa lista com cuidado, o psicólogo lança mão de alguns recursos para expor o cliente às situações consideradas perigosas, mas com acompanhamento e segurança garantida pelo profissional.
Em alguns casos, quando o paciente dispõe de um alto poder aquisitivo, ele realiza junto com o terapeuta uma viagem mais curta (Rio-São Paulo, por exemplo), encarando seu medo com o auxílio de recursos como técnicas de respiração e relaxamento, que reduzem a produção do hormônio adrenalina pelo corpo e aliviam os sintomas mais incômodos. Isso tem por objetivo “ensinar” ao cérebro que a situação não é tão ameaçadora assim, associando-a à uma condição de relaxamento.
No entanto, na maior parte das vezes, tal artifício não é possível no decorrer da terapia e o psicólogo utiliza outros recursos mais acessíveis como relaxamento conjugado à imagem mental, filmes, simuladores, vídeo games, etc. Pode não parecer significativo, mas, em diversos casos, a mera imagem de um avião decolando pode gerar uma crise de ansiedade em uma pessoa fóbica. Estratégias de mindfulness (conhecida por alguns como “meditação para ocidentais”) têm sido empregadas com frequência nos últimos anos e demonstrado um resultado ainda mais perceptíveis e com menores chances de recaída.
Na fobia, assim como em qualquer transtorno de ansiedade, o indivíduo tende a perceber o mundo, o futuro e as situações de sua vida como mais perigosas e catastróficas do que realmente são, além de subestimar a eficácia de seus recursos pessoais e da sua rede de suporte (família, amigos, cônjuges, etc). Em psicoterapia é essencial que o psicólogo reconheça as crenças e pensamentos disfuncionais do paciente, de forma a reestrutura-las de maneira mais adaptativa e funcional.
Os comportamentos evitativos devem ser substituídos por formas seguras de confronto, como as mencionadas acima. A ansiedade comum atinge um pico ao longo dos minutos e produz diversos efeitos fisiológicos indesejáveis (falta de ar, taquicardia, sudorese nas extremidades, entre outros), mas depois de um tempo, a tendência é que o corpo volte a seu estado normal naturalmente. Quando o paciente percebe isso na prática, torna-se muito mais fácil ele se aventurar a se expor a seus medos e o resultado costuma ser bastante positivo.
Texto: Gisela Nonnenberg, Psicóloga Cognitivo-Comportamental
Consultório: Copacabana – Rio de Janeiro
Contatos: gisanonnenberg@gmail.com ou (21) 992426342
Site: psichat.wordpress.com
Fotos: Lily Pestana
https://medium.com/@juniorbatista/hipnose-no-tratamento-de-fobias-438134487f97#.usf1a7e6u
ResponderExcluirLily, você não tem ideia de como foi bom ler essa matéria. Eu nunca gostei de andar de avião, mas sempre andava assim mesmo. Depois de uma volta de Santiago, no entanto, o avião ficou mais de 1h balançando. Uma mão estava apertando a senhora do lado e a outra, apertando a santinha que ela me emprestou, rs. E assim meu quadro passou para fobia. Logo eu que já tinha ido a Moscou, Austrália e muitos outros lugares de avião e mesmo sozinha. Comecei então a fazer exatamente esse tratamento descrito na matéria e os passos foram esses mesmos. Acho até que vou escrever uma matéria lá no Uma Volta e Meia para ver se encorajo mais pessoas a fazeerem esse tratamento. Hoje já consigo falar a respeito. :-)
ResponderExcluirOlá, Raquel!
ExcluirCaramba... que experiência. Com certeza, fobia de avião é algo bem mais comum do que a gente imagina e vale a pena incentivar as pessoas a buscarem tratamentos. Escreva sim sua experiência. Acredito que você influenciará positivamente muitos, viu?
Obrigada por compartilhar conosco um pouco da sua história e parabéns por ter tido a coragem de se cuidar e vencer seu medo.
Beijinhos,
Lily